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Estou andando sem pressa por certa rua de um bairro distante, quando me deparo com o molequinho parado à frente de uma casa, atrás da pequena mesa sobre a qual dispôs os produtos que, certamente com algum esforço divertido, amealhou e agora vende. O garoto terá os seus cinco, seis anos – e os produtos que vende, na verdade, são pedras. Um pequeno monte de pedras de diversos tamanhos e formatos, cuidadosamente dispostas sobre a mesa que sua mãe ou seu pai instalou, e que foram por ele arrumadas e polidas como se fossem as jóias que agora, conscienciosamente, pretende vender.

Uau! Um garoto vendendo pedras – e a cena me remete, de imediato, à minha infância, minha prima e eu vendendo pedras e limões na banquinha improvisada, brigando sempre para ver quem era o chefe. Que bom ainda encontrar, às vezes, crianças vendendo pedras – crianças crianças.

Paro em frente à banquinha e o pequeno me olha com certa atenção comercial. Examino as pedras sem dizer palavra e percebo que meu silêncio, de alguma forma, o instiga. Olho para ele e ainda não digo nada, cliente compenetrado avaliando o produto. Pego nas mãos duas das pedras, justamente as mais pesadas, e ele me pede que seja cuidadoso – se caírem, podem quebrar.

“Quanto custam as pedras?” – pergunto, sério.

“Cada uma tem um preço.” – ele esclarece, ainda mais sério (eu também dizia isso aos clientes, lembro.)

“Esta aqui.” – e aponto uma delas, a maior. Ele me dá o preço numa moeda imaginária. Achei que seria mais caro, e digo isso a ele.

“É que ela não é muito rara.” – e faz uma espécie de muxoxo, gesto de certo desdém com a mão.

“E qual é a mais rara?” – pergunto eu, curioso.

Ele me aponta uma pedrinha pequena e alaranjada, que certamente já foi parte de alguma construção, e ainda carrega os laivos de tinta que a diferenciam das demais.

“Esta.” – e complementa, orgulhoso – “Tem poucas assim no mundo todo.”

Dou ao pequeno o olhar de quem está impressionado e ele sorri. Então lhe pergunto quando custa esta pedra.

“Esta eu não vendo, é rara mesmo.” – diz ele. – “Tá aqui só pra eu me exibir.”

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