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Maria acorda às seis e meia e, logo após tomar banho, chama os guris para a escola. Antes de se vestir, passa um café e põe a mesa. Depois, verifica se os moleques estão mesmo acordados (o esforço de acordar adolescentes) e vai se preparar para o trabalho. No café, separa a briguinha habitual entre os filhos e entrega a cada um deles um dinheiro ou o sanduíche para a merenda. Quando os garotos saem, a casa permanece uns instantes num silêncio estranho. À hora em que ela está saindo para o trabalho, o marido deseja:

“Feliz dia da mulher, querida.”

Mas ele faz muito pouco em casa.

Maria pega o carro e segue para a empresa, na marcha de sempre, à direita da pista. Um motorista apressado buzina (Maria não sabe a razão) e ela faz sinal para que ele ultrapasse. Quando o automóvel emparelha ao lado do carro de Maria, o rosto irado do outro motorista dá conta de que está próximo de mandá-la longe, mas – num átimo de sei lá o quê – não o faz, talvez em homenagem ao dia.

Mas ele acha que mulher dirige mal.

Na firma, pouco depois de chegar, atende pelo telefone um dos seus clientes mais chatos. Não tanto pelas negociações, mas pela forma: uns elogios melosos, comentários cheios de intenções, mulher bonita pra cá e ainda por cima competente pra lá, que sorte tem o teu chefe, risinho estúpido e desavergonhado. Hoje, no entanto, ele está sério, contido ao telefone. E ao final, se despede:

“Feliz dia da mulher, dona Maria.”

Mas amanhã ele voltará à carga.

O chefe chega um pouco depois, a sala está cheia de gente. O homem traz um ramalhete de flores lindas, sorriso de quilômetro no rosto, e deposita-as cuidadosamente na mesa de Maria, única mulher na sala. Faz um discurso eloquente, bonito mesmo, elogiando a competência, a simpatia e o dinamismo da empregada. Ao final, flores nas mãos e bochechas em fogo, ela é aplaudida pelos colegas.

“Feliz dia da mulher, Maria.”

Mas todos eles ganham mais do que ela.

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