Henrique está buscando vaga no estacionamento do supermercado quando, à sua frente e sem olhar para trás, um carro dá a marcha-a-ré e sai de repente de um dos espaços. Ele precisa tocar o dedo na buzina e frear ao mesmo tempo; não fizesse isso, e teriam batido, os dois.
“Ô, sua barbeira!!…” – ele grita, fúria imediata.
O outro carro pára, em susto. E, ao contrário do imaginado por Henrique, dele desce um homem. Mais que isso: é o Milton, um amigo seu. Os dois, constrangidos: um, pela barbeiragem; o outro, por haver xingado um amigo (mas não se constrange por ter pensado que o motorista era mulher…nem pensa nisso, ele.)
“Rapaz, desculpa, tava distraído!…” – justifica o Milton. – “Se não é tu dar uma buzinada, tava feito o estrago!…”
“Que é isso, rapaz, nem esquenta!… pode acontecer com qualquer um.” – e Henrique sorri amarelo, o amigo é um cara bacana e aquele destempero ficou meio chato – “Só cuida mais na próxima vez…””
“Mas e então achaste que eu era mulher, hein?” – pergunta o Milton.
Henrique não entende o comentário.
“Sim, me chamou de barbeira! Barbeira!…” – e novo sorriso constrangido.
O outro dá uma gargalhada, a tensão breve do momento se esvaecendo.
“Bah, nem reparei! Mas sabe como dizem: mulher no volante, perigo constante!..”
E ambos dão risada; o constrangimento já passou.
Quando se despedem, outro veículo já tomou o lugar onde o automóvel do Milton estava estacionado.
Henrique segue adiante, à procura de novo espaço para o seu carro.
E estaciona numa vaga para idosos.