fbpx

O mano e os primos tinham dito a Artur que era o tio Biteco quem, enfiado em trajes vermelhos e botas escuras que não combinavam com os calores de dezembro, fazia a distribuição dos presentes na noite do Natal. Que reparasse: o tio não estaria ali naquela hora. Mas nem os manos nem os primos sabiam de nada: com a autoridade de seus quatro anos completados há tempo, Artur perguntou ao Biteco onde ele estava na hora em que os presentes tinham sido entregues, e o tio respondeu que tinha ido até em casa porque lembrara que havia deixado a televisão ligada.  E se o tio tinha ido até em casa, claro que não poderia ser ele a distribuir os presentes.

Os primos e o mano eram mesmo uns bobalhões. Gastavam o tempo de suas vidas tentando atormentar Artur, só porque ele era o menor.  Quando crescesse, eles iam ver, pensava Artur – o fato de os outros também crescerem era detalhe de pouca importância. 

 A mãe havia contado que o Papai Noel desce pela lareira. Quando Artur perguntou como é que ele conseguia – um velhinho meio gordo, com roupas pesadas e carregando um saco enorme de presentes às costas -, a mãe apenas lhe respondera, sorriso carinhoso e apressado, que o Papai Noel consegue tudo. Simples assim. E o tio Biteco, atrapalhado como é, nunca que ia conseguir descer pela lareira da casa, pensou Artur.

Hoje, quando a sala já está de volta aos seus dias normais, o menino estuda a lareira com a atenção séria da infância, buscando a prova de que Papai Noel existe mesmo. Se ele desceu por aqui, deve ter deixado algum vestígio – um fio de roupa vermelha, qualquer fita de embrulho, quem sabe um presente esquecido? Ou até um cocozinho de rena, ri-se Artur, deliciado da bobagem.

O pequeno examina a lareira meticulosamente, sabendo que a mãe mais tarde certamente irá xingá-lo por causa da sujeira – mas a causa vale o sacrifício.  Busca as paredes internas, o chão de tijolos refratários, o montinho de achas de lenha que está sempre por ali, as ferramentas com que o pai cria e aviva o fogo nos invernos, na certeza de que encontrará daí a pouco a prova que exibirá, triunfante, aos olhos derrotados do irmão e dos primos maiores.

E então encontra o que desejava.

São dois ou três pequenos fios, montinho poeirento que, a bem da verdade, se parece mais com os pelos do gato que dorme por ali quando a lareira está menos suja. Os fios são acinzentados – mesma cor dos pelos do gato. 

Mas também é a cor da barba do Papai Noel depois de descer pela lareira, decide Artur. Esfregando-se em todas as lareiras e chaminés de Natal que existem no mundo, é certo que a cabeleira do velhinho ficará acinzentada. É óbvio, pensa Artur. Igual ao pelo do gato – mas ainda assim, barba do Papai Noel.   

E os fios da barba estão agora ali, nas mãos orgulhosas de Artur.

Papai Noel existe mesmo, sorri ele.

É só querer acreditar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *